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- Interior (ES) - Paulo Moura
Interior (ES) - Paulo Moura
“A arte baseia-se na vida, porém não como matéria mas como forma. Sendo a arte um produto direto do pensamento, é do pensamento que se serve como matéria; a forma vai buscá-la à vida. A obra de arte é um pensamento tornado vida: um desejo realizado de si mesmo. Como realizado tem que usar a forma da vida, que é essencialmente a realização; como realizado em si mesmo tem que tirar de si a matéria em que realiza”. Fernando Pessoa
Como no pensamento, também eu procuro nas minhas vivências as simbologias que desenvolvem os projetos artísticos e em matéria transmitam formas e estas, os objetos, a escultura.
Procuro as minhas raízes, que guardam em si um passado, mostrando-se reveladoras de um presente sempre atual. Quem fomos e quem somos?... a sua sustentabilidade assenta na interioridade e na diversidade de formas naturais de raízes que nos rodeiam, no hemisfério dessas vivências e trazem em si a mística revelação de uma identidade, abri-las, são como descobertas nos processos da vida!
Sempre que se concebem novas aberturas/fraturas na matéria, proporcionamos entrada de luz e um novo corpo se forma...; o lado interno torna-se externo, o interior deixa de o ser e outros interiores surgem, mas, a descoberta é sempre associada a uma nova configuração, a um novo ser, a uma nova vida!
O granito é a materialização do objeto; a abertura é o método; o pensamento é a matéria; A arte é a forma; a forma... a vida!
A forma física, o objeto, emerge na sua base erigido na configuração de um quadrado que está associado à simbologia do domínio da racionalidade e da neutralidade, que pela sua figura angulosa e contrastante é a forma mais ligada ao mundo da tridimensionalidade, mundo em que a escultura se integra. Associa-se também ao pensamento cartesiano, analítico, agregando significados como firmeza, organização, solidez, sobriedade, repouso, passividade, estrutura, estabilidade, ordem, precisão de cálculo e perfeição matemática.
Simbolicamente abrir a matéria, pretende significar a mutação de todos estes adjetivos; a intervenção artística, o objeto, fruto dessa vivência, agrega também significados opostos aos explanados. Ela, como a vida, também é dúvida, instabilidade, excesso, trabalho, ação, desorganização, desordem, defeito, falha...
Foi então preciso voltar a organizar na mente e no espaço físico a materialização do objeto, a composição estética; a verticalidade assumiu um papel preponderante na sua construção. As linhas verticais sugerem simbólicamente elevação, movimento ascendente, atividade, associados à mente. Expressam equilíbrio na desconstrução, este porém instável, como se nada o protegesse e estivesse prestes a cair.
Essa sobreposição vertical dos elementos confinou numa espiral interna no espaço vazio, traduzindo um movimento aparentemente ascendente que lhe confere em termos simbólicos o aspeto formal da videira, na sua morfologia contorcida e numa procura constante de um espaço no infinito.